10 de nov. de 2007

Matemática e dificil ou não?





Afinal, a Matemática é ou não difícil?

Se é, como dar-lhe a volta?
Se não, então porquê tanto insucesso?
Muito justamente, tem sido prática da APM combater a ideia simplista e redutora, frequente e erradamente divulgada, de que a Matemática é a disciplina mais difícil, destinada apenas aos cérebros iluminados.
"Na maior parte das disciplinas, com mais ou menos marranço, a coisa ainda vai, agora com a Matemática não é de estudo, é de compreensão!..." – diz muita gente e, sem excepção, os mais preguiçosos em jeito de desculpa para o insucesso, arrumando-a (e aos respectivos compêndios novinhos em folha) na prateleira das disciplinas que se aceita que se deixe de lado. Até porque já o pai, a mãe, a avó, o gato e o piriquito nunca deram nada para a dita... E a justificação do cruzar de braços completa-se com a alegação de que ninguém tem culpa de não ter jeito, expressão sinónima de ser inteligente, porém, bem mais tranquilizadora para os pergaminhos genéticos da família, se os houver. (A não significar isso,não seria de esperar mais insucesso em disciplinas como a Educação Visual, reconhecida que é a tradicional falta de jeito para o desenho assumida por uma boa parte da população?...)
Em suma, sabendo de antemão que se trata de uma disciplina difícil e que haverá toda a compreensão do mundo para o insucesso (se a há até para coisas bem piores!...), é meio caminho para ser posta de lado.
Dada a reconhecida especificidade da Matemática - elitismo à parte - acho que haverá uma pontinha de razão nestas ideias simplistas. Não digo toda a razão porque, na minha opinião, tal como em qualquer actividade de que se ouça falar, a receita é: para além de alguma inspiração (algum jeito sempre ajuda...), transpiração precisa-se, mas não só da parte dos professores... Para mais se queremos um ensino centrado no aluno!
É que, ainda que muito empirica-mente, tenho para mim que, se não se pode dizer que a Matemática é a mais difícil, é, seguramente, das mais "trabalhosas".
Se a Matemática é, como se defende, como uma outra qualquer, então por que razão os professores de Matemática não conseguem que os seus alunos tenham tanto sucesso como têm nas outras disciplinas? Aí é que parece estar o busílis da questão: os professores.
Muitos pais, os respectivos petizes confortavelmente imitando-os, alguns professores e, paradoxalmente, até professores de Matemática, não raras vezes, têm vindo a dar corpo a essa ideia. E, diga-se de passagem, em certos casos até terão alguma razão. Sem dúvida que haverá professores de Matemática que deixam a desejar. E não me refiro apenas aos curiosos (independentemente da habilitação que possuam ou não, sublinho) a quem a maior parte das escolas se vê obrigada a entregar horários para "desenrascar" a falta de professores. Sem dúvida que a instabilidade do corpo docente, em particular do de Matemática, tem efeitos negativos. Mas, já agora, uma pergunta porventura incómoda para os mais igualitaristas: por que raio havia de ser na Matemática que, ao longo dos tempos, mais se tem feito notar a falta crónica de professores? Será porque os professores evitarão sê-lo de Matemática? E isso ficará a dever-se ao facto de os professores não lhes terem incutido o gosto pela disciplina!?... Bom, entramos num círculo vicioso, de que não descortinamos o pecado original.
É melhor não perder tempo a tentar descobri-lo. Centremo-nos nos professores aqui e agora. Se a Matemática não é difícil, bem podemos concluir que os professores de Matemática são assaz ineficazes.
Com o sucesso(?) visível na maior parte das outras disciplinas depreender-se-á que os outros professores, pelo contrário, são competentes e ao longo dos tempos, têm-se adaptado às exigências das novas realidades, conseguindo que os seus alunos progridam satisfeitos, empenhados, cheios de interesse pelas respectivas. Decerto, trabalham em grupo, reflectem, trocam experiências, enfim, trabalham que se desu-nham comparando com os seus colegas de Matemática, que continuam a dar a matéria sempre da mesma maneira, insípida, agarrados que estão aos velhos e estéreis métodos.
Pode ser cómodo e um alívio para dores de cotovelo e/ou frustrações que terão a ver com maus relacionamentos e respectivas irritações com a Matemática, porém – admito que sou suspeito –, penso ser injusto pôr a tónica nos professores desta disciplina. Quem o fizer candidata-se à tarefa ciclópica de demonstrar que a (boa) formação de todos os professores de Matemática vai ser a varinha mágica, condição suficiente do sucesso. Num assomo de lucidez, pode ir mais além e, porventura, arranjar justificação para bater na Reforma. Todavia, o problema é muito mais complicado pois a própria Reforma se inscreve num complexo contexto que é a Edu-cação. Nesse aspecto – tendo em conta as recentes avaliações de desempenho e de competências de crianças de vários países –, para não ser demasiado radical, convenhamos que, mesmo em regime capitalista neoliberal à pressa, podíamos estar bem melhor e, por tabela, a Matemática!...
Sobre estes assuntos e a eventual descoberta do pecado original era preciso um pouco mais de investigação.
Augusto Taveira
Esc. Sec. João de Deus, Faro

3 comentários:

Mônica Faria disse...

Matemática é uma delicia dependendo de como você recebe a informação. Tudo depende de como abordamos os assuntos. Tudo pode ser muito massante e chato ou muito legal, divertido e bem aproveitado.

Abraços e inté amanhã*

Árabe Doido disse...

Sinceramente, na infância eu adorava a Matemática. Achava a melhor matéria, pois na época (anos 80), pelo menos na escola em que eu estudava, prezava-se muito o ato de decorar. Com a Matemática, não havia quase nada a ser decorado. Eram dadas as contas e bastava resolver. Era um alívio em comparação às outras matérias.
O enrosco se deu quando começaram a ensinar os números romanos. Em vez de ensinar como formá-los, queriam que decorássemos as sequências, do um ao doze e depois até o 100. Seria bem melhor a meu ver que ensinassem a lógica de como eles são formados, como vim a aprender anos depois.
O mesmo se deu com os problemas. Para mim era difícil equacionar aquelas narrativas. E os professores ajudavam pouco. Quando tentávamos tirar dúvidas, eles achavam que bastava repetir a explicação dada mudando a ênfase das palavras. Péssima técnica.
Creio porém que o pior dos problemas no ensino de Matemática seja o método retrógrado de alguns livros, que é o de passar uma fórmula em dez linhas e depois "vomitar" cinco páginas de exercícios. O velho e odioso método da repetição. Confesso que essa foi a gota d'água para que eu e muitos outros ficássemos enojados com a matéria. Chegávamos até a queimar os livros de Matemática no fim do ano tal era o ódio que pegávamos.
Realmente hoje, com o conhecimento que adquiri tenho para mim que o melhor não é ensinar a fórmula e depois fazer o aluno encher páginas e mais páginas de continhas. Creio que é muito mais produtivo ensinar a lógica que está envolvida no processo. Por acaso já consegui bons resultados.
Lembrei agora de outro detalhe: meus professores de Matemática sempre foram aversos aos "macetes". Tinha que ser daquele jeito que ele ensinou, mesmo se o macete fosse facilitar nossa vida. Já tive experiências maravilhosas quando eu mesmo ensinei os macetes. Chegou-se ao ponto em que depois de dominada a técnica, vinha o interesse em saber como era o método tradicional.
Realmente, acho que tudo se baseia em aprender a ensinar e ter um pouco mais de flexibilidade e adaptar a matéria ao aluno.

Phage disse...

Olá.
Gostei muito do que li. Na verdade tudo aquilo que nos rodeia é nem mais nem menos do que matemática e isto dito para algumas pessoas que não gostam dela até será um bicho de sete cabeças! xD

A Matemática foi sempre a minha disciplina preferida até ao meu 12º ano, precisamente por ser uma disciplina com base na compreensão, na habilidade e sem ter que ser decorada.
Eu estudei ciências e tecnologias e agora pretendo entrar na faculdade. Gostaria de fazer licenciatura em Matemática, mas tenho medo que o meu grande gosto por ela não seja suficiente pois sei que é um curso que requer muito e muito trabalho, muito suor, muita dedicação... Posso dizer que nunca fui uma aluna brilhante a Matemática porque nunca passei dos 16 valores nos meus testes de avaliação, mas também tenho noção de que podia ter sido melhor se o meu trabalho, como é óbvio, tivesse sido maior. O problema é que, tendo variadas disciplinas de assuntos tão diferentes, acabamos por ser obrigados a desligar os pensamentos que temos de uns assuntos para os outros e, para alguns, passa a ser difícil ser-se muito bom aluno a tudo. Sei que não dei o meu máximo e que apenas me cingi a ser uma aluna razoavelmente boa e não uma muito boa aluna.

Estive a consultar o plano de estudos e verifiquei que existem outros cursos dos quais eu também gosto e que têm disciplinas equivalentes às do curso de Matemática, pelo que assim terei hipóteses de mudar de curso se preferir. O meu irmão está a acabar um mestrado integrado em Engenharia Eletrotécnica e tem-me sempre dito que é complicado fazer a Matemática que o mestrado tem quanto mais fazer um curso só dela.

Gostaria muito de pedir a opinião de alguém entendido na matéria. É claro que vou colocar em primeiro lugar outros cursos, mas nunca se sabe... eu poderei não conseguir entrar neles, daí ficar a pensar na hipótese de eu entrar em Matemática. Será que ela é assim tão cansativa e tão assustadora como muita gente me falou? Será que faço bem em ingressar nesse curso?
Obrigada. Abraços.